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O Cardeal-Patriarca D. Manuel Cerejeira (1888-1977) foi um “intelectual de combate”, uma “personalidade fulgurante”, que “suscitou reações desencontradas”, à qual ninguém ficou indiferente, afirma o sociólogo Luís Salgado de Matos, na biografia do prelado.
Figura que mais tempo esteve à frente da diocese metropolitana de Lisboa, de 1929 a 1971, o Cardeal Cerejeira “foi uma personalidade fulgurante que marcou a sociedade portuguesa do seu tempo, e suscitou reações desencontradas, entre as quais não estava a indiferença”, afirma Salgado de Matos na obra “Cardeal Cerejeira. Um Patriarca de Lisboa no Século XX Português”.
Sobre a obra de Salgado de Matos, o atual Cardeal-Patriarca D. Manuel Clemente afirma que se apresenta “original e estimulante”, chamando à atenção para a “variedade de fontes que utiliza”, ensaiando "um retrato mais completo e complexo”, de Cerejeira.
O então Cardeal-Patriarca “promoveu e defendeu o quadro” da Concordata assinada com a Santa Sé, que vigorou a partir de 1940, como recorda Clemente, segundo o DN.
“Salgado de Matos distingue o que é próprio de cada fase do trabalho eclesial de Cerejeira. Desde que levou por diante a reconstrução material e pastoral da diocese [que na época incluía os territórios dos atuais distritos de Santarém e Setúbal], com ânimo forte e vistas largas, até aos tempos do pós-guerra [de 1939-45] e do Concílio [Vaticano II (1962-65)], em que tanta coisa mudou na sociedade e nos espíritos, pondo em causa o que parecia durar e exigindo outra clarividência e outro rasgo”, escreve Manuel Clemente.
O autor da biografia, professor na Universidade Nova de Lisboa, traça o percurso de Manuel Gonçalves Cerejeira desde o nascimento, em Lousado, em Vila Nova de Famalicão, filho de “lavradores em ascensão social”, que lhe permitiu estudar no seminário-liceu de Guimarães, em 1899, e mais tarde no curso complementar de Letras, no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, em 1905, seguindo depois para o seminário-conciliar de Braga (1906-1909).
A opção religiosa deu-se muito cedo, segundo o próprio Cerejeira, desde que se conheceu. “Desde que me conheço, senti em mim o apelo do Senhor. Era uma voz íntima, doce, penetrante”, afirmou o prelado, por ocasião do seu jubileu sacerdotal, em 1961, cita o autor.
Segundo o investigador, Cerejeira “cultivou o estilo ‘príncipe da Igreja’ por o julgar adequado à dimensão divina da Igreja, merecedora de provas de deferência institucional da sociedade e do estado pós-laico”, o que, refere, “não deixou de ser interpretado como fruto da vaidade e, para muitos, funcionou como desedificação”.
O cardeal português, além do prestígio que alcançou em Portugal, onde a imprensa o chegou a apontar como sucessor do Papa Pio XII, desempenhou várias missões relevantes, como a direção do conclave de 1958, que elegeu João XXIII, fez parte das academias pontificais e “era adornado por elevadas insígnias papais”.
“A Santa Sé sempre apoiou Cerejeira e o Patriarca nunca abriu um conflito com o papado, antes lhe atenuando as brigas com o Estado português”, durante a ditadura do Estado Novo, com Oliveira Salazar, primeiro, e Marcello Caetano, depois, como presidentes do Conselho de Ministros.
Salgado de Matos aponta os finais da década de 1950 como “o fim da [sua] fase gloriosa”, simbolicamente quando, em maio de 1959, inaugurou o Santuário do Cristo Rei em Almada, frente a Lisboa. Na ocasião afirmou: “Se pudesse escolher o momento de morrer, escolheria este”.
Ao Cardeal-Patriarca Cerejeira, que resignou em 1971, sucedeu D. António Ribeiro, que ficou à frente do patriarcado até 1998.
Luís Salgado de Matos, jurista, sociólogo, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, tem por temas de pesquisa o Estado, a Igreja e as Forças Armadas.